Esgueira-se entre a multidão. A fome o faz parar diante de uma maquina de churrasco grego, ele observa a carne girar e o atendente cortá-la para fazer os lanches dos clientes, seus olhos até então semicerrados se abrem, o estômago ruge como um leão faminto.
Ao notá-lo o atendente fecha a cara e se prepara para fazê-lo sair dali, sua presença afasta os clientes, seu cheiro é terrível, sua cara chupada, horrorosa para uma criança, as mulheres agarram as bolsas, os homens deixam claro no olhar a desconfiança.
Quando o atendente se aproxima para afastá-lo um senhor diz para lhe dar um lanche. Ele acompanha cada corte feito na carne, está sendo colocada no pão e junto com ela uma salada rala. Pega o lanche sem desviar os olhos dele nem mesmo no momento em que o atendente manda-o ir comer lá longe.
Quase que hipnotizado, ele suspira fundo e morde o lanche fechando os olhos de prazer e mastiga aquilo como se fosse o melhor banquete do mundo, vendido a cinqüenta centavos, e nem mesmo a água colorida que dizem ser o suco que acompanha o lanche ele pôde tomar.
Segue andando pelas ruas do centro, e começa a pedir esmola para as pessoas que lhe viram a cara, depois de muito tempo, juntou o bastante para o que queria. Saí apressado, agora os passos parecem determinados, sabe para onde deve ir.
Chega ao local, olha em volta, está impaciente, ele os vê. Vai até eles, entrega o dinheiro, recebe um pacotinho, saí apressado. Agora olha para o chão a procura de algo, encontra uma lata de refrigerante na guia, a pega, amassa devagar e começa a furá-la em um dos lados, coloca aquilo na boca e experimenta, assopra de um lado e sente o ar sair pelo outro, agora puxa e o ar vem até ele, funciona.
Com algumas moedas vai até um marreteiro e compra cigarro e isqueiro, volta a caminhar agora quase em desespero, sente o ar faltar, as mãos tremerem, tem pressa, precisa de uma tragada.
Encontra uma rua menos movimentada, encosta e acende o cigarro, não se importa em fumá-lo, só deseja a cinza que ele coloca cuidadosamente sobre os buracos que abriu na lata. Depois pegou o pacotinho, dentro dele havia uma pequena pedra amarelada, meio queimada, ele quebra um pedaço, a tremedeira atrapalha, ele arruma, põe a lata na boca, acende o isqueiro e queima a pedra, tragando a fumaça pelo cachimbo improvisado.
Antes mesmo de terminar de tragar seus olhos se arregalam, começa a olhar em volta como que com medo, coloca a latinha em um cantinho e sai andando afobado, chega à esquina, mas volta atrás, ele precisa de mais, e não para até que a pedra se acabe.
Sai novamente, agora com os olhos arregalados, agitado, lambendo os lábios, volta a pedir dinheiro na rua, mas as pessoas agora se afastam vendo seu estado. Consegue o dinheiro com mais dificuldade, e volta para a latinha após pegar outro pacotinho.
Este dura ainda menos, não faz tanto efeito como o primeiro. E logo este também acaba. E novamente ele está atrás de uma maneira de fumar, as pessoas se tornam mais reticentes, ele não consegue o dinheiro que precisa, quando vê aquela senhora com a bolsa pendurada no braço.
Não excita e sai numa corrida só, agarra a bolsa e corre, corre sem parar como se sua vida dependesse disso. Desesperado pela droga não se importa nem mesmo em sair daquela região.
Agora já é noite, a droga acabou... ele quer mais, sempre mais. O pouco dinheiro que havia conseguido se foi. Junta as moedas que tem e com outro moleque compra outra meio a meio. É queimada rapidamente. Perambula pela rua, a procura, cutucando cada pedrinha que vê quem sabe alguém não tenha perdido alguma, não encontra nada. Sem dinheiro, sem droga, sem vida.
Começa a cair água, a chuva é forte, ainda assim continua atrás como se nada sentisse além do desejo insano de mais. Quando para sob um viaduto e logo percebe alguns jovens fumando.
Aproxima-se e pede para eles um pouco, eles riem e olham uns para os outros, oferecem a ele uma troca, um pedaço por sexo oral, ele desesperado por mais, concorda, e um por um eles o usam, ele fuma sua recompensa, que mal dá para uma tragada.
Eles lhe oferecem mais, porém em troca ele deveria lhes servir de mulher, ele chora enquanto é abusado, penetrado, rasgado. Os garotos se irritam e começam a bater nele até que ele perca os sentidos, o largam em uma rua qualquer. A noite chega ao fim.
Ele sente o sol forte em seu rosto, abre os olhos, pessoas passam por ele vindas de todos os lados, indo em todas as direções, passam como se não o vissem, apenas desviam como se fizesse parte daquele cenário deprimente de concreto em seu caminho, invisível, inexistente. Sente dor, fome, calor, muito calor, levanta-se meio tonto, sem ver direito com os olhos remelados, procura nos bolsos da roupa tão suja quanto ele próprio, não encontra nada. Começa a andar pelas ruas, devagar, sem rumo. Dor, fome, calor e vazio o preenchem...
Olá sou Alcb dono do blog O CASTELO BRANCO gostei muito do seu blog, percebo que ainda não possui um mini banner para compartilharmos parceria, mais posso criar um para vc e enviar o código, seja como for gostei de ter encontrado seu blog lá no DIHITT também estou por lá com outro blog, o nome é FIQUE SABENDO podemos ser parceiros lá tb ,se enteressado deixa um contato neste endereço (http://ocastelobranco.blogspot.com/2009/06/contatos.html) ate´mais.
ResponderExcluirMuito bom seu texto!
ResponderExcluirMuito obrigado,Alcb, Manol, fico muito satisfeito que tenham gostado, e comentado.
ResponderExcluirEm breve teremos A barraquinha de frutas, espero que vocês também gostem desta nova história.
Grande Abraço,
E,milhões como "ele", existem por aí... "eles", são o resultado de políticas egóístas e de injustiças civís, tão bem distribuídas, que sempre sombra, mas eççe "resto de nós mesmos",os "cidadãos de bem,ninguém quer, ninguém vê; eles são os filhos órfãos da sociedade, e estão presos nela assim como nós; a diferença, é que "eles" se arrastam do lado de fora,nas ruas,e nós, por trás de domésticas grades... Então, quem é prisioneiro?
ResponderExcluirPor quê os governos não conseguem acabar com "eles"?
Os assistentes sociais dizem: "Não dê esmola, dê cidadania"... Qual? a mesma que o governo nos deu?
Maaassss,um dia,querendo ou não,este mundo cão terá fim,porque o mal, destrói a si mesmo.
Enquanto isso não acontece, só nos resta ajoelhar...
Oi R149, fico muito contente com sua visita e comentário. Os governos já deveriam ter solucionado esse problrma social (garoto de rua)á muito tempo. Quanto ao crack é um caso de saúde pública e assim deve ser tratado. E repito a unica força capaz de vencer o crack é o amor, ele aliado a perseverança operam o milagre que é resgatar uma pessoa desde mundo,
ResponderExcluirGrande Abraço.
Olá querido Ademar!
ResponderExcluirÉ forte, duro...mas real! E quando pensamos que neste momento estão vários jovens, várias crianças perambulando pelas ruas em busca de um trago de "paz"... A parte em que você escreveu que ele estava no chão e que as pessoas passavam sem notar-lhe a presença, me deixa triste, mas infelizmente é a verdade. Acho que apesar de todos saberem do mal do vício, parece que desistiram de lutar, gritar e exigir que algo seja feito para que esse sofrimento acabe e que essas pessoas tenham tratamento e voltem a ter um pouco de dignidade, paz verdadeira e vida...
Grande beijo e parabéns pelo realismo do conto!
Jackie
Muito bom seu texto, alias o blog e muito bom, que as pessoas possam se concientizar, nao so saber o que as drogas fazem com quem usa, mas saber que quem usa e um ser humano que precisa de tratamento e ajuda, nao se trata de dar dinheiro para a pessoa ir la e comprar mais, mas aconselhar a um tratamento sempre ah tempo de voltar e ter uma vida normal.
ResponderExcluirQue triste. E a gente ainda reclama de coisas tão banais...
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